A questão de gênero vem me
incomodando há algum tempo. Comecei a trabalhar com esse tema em 2000, quando
uma amiga me convidou para trabalhar no lugar dela em uma ONG. Fui e esse tema
tem ficado comigo desde então. Mudei de trabalho, mas meu olhar para essas
questões continua apurado. Quando se aprende a ver alguma coisa é difícil
deixar de enxergar (quando machucamos alguma parte do nosso corpo, parece que
batemos nela o tempo todo, não é isso; acontecia de esbarrarmos nessa parte,
mas não nos dávamos conta dela, agora ela está presente para nosso olhar, ou
então perceba quando você conhece uma pessoa, parece que ela está em vários
lugares comuns e antes você não a via).
Pois então, o ano de 2013 teve um
grande número de reportagens sobre violência sexual. A cada nova reportagem esbravejava
mas continuava meu trabalho, até que me contaram de um adolescente que abusou
de uma colega de sala. Fiquei indignada, com assim? Um adolescente de 14 anos
abusando de uma colega de sala? Tratar de gênero nas escolas é fundamental,
pois depois de tanta conquista das mulheres elas ainda continuam a sofrer desse
mal primário – tratar as diferenças como coisas menores.
Agora não dá mias para ficar
parada! Vamos fazer diferente
Mas, qual o modelo de homem que
oferecemos aos garotos? As mulheres modificaram o estereótipo de mulheres
frágeis, enfrentaram o mercado de trabalho, enfrentaram o preconceito de
mostrarem a sexualidade, lutaram pelos direitos sexuais, mas os homens ficaram
assistindo, fazendo poucas reflexões. Os homens ainda estão no imaginário como
provedores econômicos, apesar de sabermos que muitos lares geridos por
mulheres; pouco sabem sobre dividir as tarefas do lar quando temos um casal
heterossexual; ou mesmo mostrar a afetividade entre seus pares é um tabu; e
ainda o modelo de homem pegador ainda impera, estão descritas nas músicas que estão
fazendo sucesso.
E as músicas!!! Essas não colaboram
nada para trabalhar a questão de gênero. Dizem: “Ai se eu te pego, ai, ai...” ou “bunda pra cima, bunda pra baixo”, então, uma música que toca em
todas as rádios, as mulheres cantam como se não lhes dissesse nada. As
coreografias enfatizam a bunda das mulheres, como se as mulheres fossem apenas
bunda...
As mulheres nesses locais aprecem
de roupas curtíssimas, rebolando, com a bunda sempre pra trás, como se isso
fosse o importante, todo o resto do corpo e a sensualidade foi jogada para o
ralo. Então como se comportar? O encanto das mulheres está apenas no corpo, não
naquilo que pensam, fazem, agem... Do outro lado, a tarde na TV, os programas
exibem donas de casa cozinhando, aprendendo a fazer doces e bolos para as
crianças e para o marido!
O tempo corre e pede para
discutirmos essa questão, senão ficaremos as voltas com reportagens de
violências sexuais, domésticas, que nos deixam estarrecidos, mas não nos
movemos em outras direções.
Por que não colocarmos nas salas
de aula esse tema? Não é discutir sexualidade, pois isso quase todas as escolas
oferecem. Falo de discutir gênero, esse comportamento socialmente e que vem se
modificando, mas precisa que dê passos mias largos!
Que tenhamos menos mulheres sendo
agredidas em 2014!
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